São Paulo: múltiplos olhares: regionalidade, identidade e cultura

Neste blog estamos dispondo narrativas visuais, textos e fotografias como parte de uma reflexão sobre a regionalidade, identidade e cultura identificadas como uma crônica do cotidiano regional que abrangerá as cidades de São Paulo, Sâo Bernardo do Campo e Santo André na região do grande ABC.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Migrante nordestina

 
fonte:www.conectadope.blogspot.com
Cidade de Serra Talhada - PE

  
 
fonte: www.panoramio.com - cidade de Triunfo - PE
 
          
Arquivo pessoal Edleide Moura - Vila de Jatiuca - PE



Arquivo pessoal - Jatiúca, sertão PE
            Na década de 70 nasci no vilarejo chamado “Jatiúca”, que naquela época pertencia à cidade de Triunfo - PE, devido ao clima ameno é uma cidade turística, encontra-se mais de mil metros acima do nível do mar. Hoje pertence à cidade Santa Cruz da Baixa Verde, localizada no Sertão do Alto Pajeú. Vinda de uma família simples, mas, de grande valor na nossa cidadezinha pernambucana. Meu pai Benjamim, um homem generoso, admirável e com uma grande visão de mundo. E minha mãe, a mulher mais encantadora e corajosa que já encontrei.
         Meus pais mudaram para São Paulo com seus cinco filhos, eu não havia completado dois anos de idade, sendo a quarta filha do casal, moramos no bairro da Pedreira em Santo Amaro - SP. Por dificuldades econômicas a situação estava difícil, devido à seca que é comum castigar o nordeste. Através da influência dos familiares, meu pai veio com a família ainda na década de 70, era um momento de grande crescimento urbano da cidade de São Paulo que vivia uma grande oferta de trabalho na área da construção civil. No entanto, meu pai trabalhou erguendo moradias na referida cidade. Lembro-me dos momentos de lazer que ele contava essa passagem por São Paulo, morávamos de favor na casa de parentes, exerceu funções de pedreiro, dos seus amigos de trabalho que na maioria eram também da sua terra e, do seu chefe que o reconhecia como um grande trabalhador e honesto. Mas, meu pai tinha uma grande visão de mundo, um apaixonado pela sua terra resolveu voltar de onde jamais deveria ter saído, lá era um ser livre e cuidava do que é seu. Segundo Santos (1998, p.100). “A capacidade de enxergar e lutar não decorre da história social que a condiciona, mas da essência humana, comum a todos os indivíduos”.
        Retornaram para a nossa pequena e sossegada vila de Jatiúca, com seus cinco filhos e, a espera de mais um. Voltamos a viver em um ambiente calmo, de crianças livres que só cuidavam de duas coisas: estudar e brincar. Brinquei de roda, esconde-esconde, pedrinhas e tantas outras brincadeiras, lugar que estudei até a antiga quarta série numa escola de uma educação tradicional, mas, como eu era inteligente nata, mesmo com a cartilha aprendi na escola e principalmente com meus pais que o estudo é o caminho da dignidade. Então, continuei meus estudos na cidade de Serra Talhada, sertão de PE, cidade de uma cultura vasta muito conhecida pelo o xaxado e a terra do Lampião. Passando a viver na casa dos meus avós Antonio e Cecília até os meus vinte anos de idade que com muito carinho e amor fizeram toda diferença na minha vida. Conquistei o meu diploma do magistério para orgulho de meu pai. Por questões políticas, a dificuldade de arrumar um emprego era muito grande, normal para cidades do interior nordestino. Por isso veio à decisão de voltar-me para São Paulo. E também a família foi crescendo, eu era quarta filha de dezesseis irmãos, percebia que meus pais precisavam de ajuda para continuar com a vida digna e estudos para meus irmãos, alguns já estavam morando aqui em São Bernardo.
Em 1992, muito jovem, cheia de sonhos e ilusões volto a São Paulo para morar com meus irmãos. Sonhos que foram se quebrando a cada dificuldade e espanto do que tem dentro de uma cidade grande: as injustiças, o desemprego e o preconceito de onde vim. Mas, muita coisa bonita aconteceu, a minha própria família, meu esposo Francisco, homem maravilhoso e nossa filha Karen Cecília, minha razão de viver.
           Trabalhei em loja, em indústria, mas, há a saudade do tempo de magistério, são memórias muito forte que estão contidas no meu coração que me levaram ao que estou fazendo hoje, a faculdade de pedagogia para terminar e começar meu sonho de infância, adolescência e adulta. Por acreditar ser mais poderosa de todas as profissões, vou ajudar crianças a serem livres cidadãos.

Autora: Edleide Moura Leite Ferreira

Asa Branca - Luiz Gonzaga

2 comentários:

  1. Eu passei a minha infância
    Na tranquila Jatiúca
    E agora nessa distância
    A saudade me machuca!

    Sinto falta de Triunfo
    Que é "Oásis do Sertão",
    Da quente Serra Talhada
    A terra de Lampião.

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  2. QUE LEGAL PODER LER SEUS DEPOIMENTOS E ASSIM TAMBÉM ME LEMBRO DA MINHA INFANCIA LÁ NAQUELE LUGAR...PARABÉNS...

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