São Paulo: múltiplos olhares: regionalidade, identidade e cultura

Neste blog estamos dispondo narrativas visuais, textos e fotografias como parte de uma reflexão sobre a regionalidade, identidade e cultura identificadas como uma crônica do cotidiano regional que abrangerá as cidades de São Paulo, Sâo Bernardo do Campo e Santo André na região do grande ABC.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Minha família e eu

Eu vou contar agora,
Um pouco da minha história,
História que se fez,
Com relatos de memória,
Minha e da minha família,
Contando a nossa trajetória.

Nasci no norte de Minas,
Numa cidade de pouca gente,
Nós éramos uma família,
Muito feliz e contente,
Meus pais trabalhavam na roça,
E assim seguiam em frente.

Viajamos de muito longe,
Para então tentar a sorte,
São Paulo cidade dos sonhos,
Povo batalhador e forte,
Mas, com muitas desigualdades,
Que causam dor e morte.

As indústrias estavam em alta,
Era crescente a migração,
Famílias deixavam tudo,
E saíam do sertão,
Tentar uma nova vida,
Um momento de emoção.

Quando nós aqui chegamos,
Por alguns dias ficamos,
Na casa de um tio,
Mas logo nos mudamos,
O emprego tão esperado,
Foi o que contemplamos.

A vida não era fácil,
Um cômodo alugado,
Abrigava sonhadores,
Um mundo inesperado,
Problemas em nossa volta,
A esperança ao nosso lado.

Espaço na casa não tinha,
Pois ali ninguém se mexia,
Duas camas e um fogão,
Era só o que cabia,
A persistência era tanta,
Que a família não desistia.

No ano de 79 aqui chegamos,
Agosto, fazia um frio de congelar,
Não tínhamos roupas quentes,
Para poder se agasalhar,
De madrugada meu pai saia,
Para poder ir trabalhar.

Compramos um barraco,
E nos mudamos pra favela,
Esta era a realidade,
De uma vida muito singela,
Esgoto a céu aberto,
Era assim a nossa favela.

Me recordo que perto havia,
Árvores e sítios, tudo era incrível,   
A paisagem era linda,
O por do sol inesquecível,
Amarelado e avermelhado,
Algo indescritível.

Comecei a estudar,
E o “prézinho” iniciei,
Onde fiquei por dois anos,
Boas lembranças levei,
Agradáveis recordações,
Que sempre guardarei.

Os passeios de domingo,
Simples, mas memoráveis,
As idas ao Zoológico,
Eram sim sempre notáveis,
A alegria contagiante,
Éramos muitos afáveis.

E hoje posso dizer,
Que é interessante perceber,
O Zoológico pouco mudou,
Mas, uma coisa posso ver,
A alegria de visitá-lo,
A tristeza faz perecer.

A lembrança é engraçada,
Pois surge como grãos,
Na “Praça Lauro Gomes”,
Brincava com meus irmãos,
A teia de aranha central,
Segurávamos pelas mãos.

A Praça continua igual,
E sempre me contagia,
A lembrança dos pequeninos,
Que brincavam com alegria,
Meus pais por alguns momentos,
As dificuldades até esquecia.

Meus pais eram católicos,
Com muita tradição,
Ir a “Aparecida do Norte”,
Era uma grande emoção,
Todo ano era certeza,
De uma grande aglomeração.

No ensino fundamental,
Tempos difíceis de ver,
Eram grandes as restrições,
Tínhamos que nos conter,
Na época da Ditadura,
Era amar o país, ou então perecer.

O uniforme escolar,
Era um avental branco,
Que na semana da pátria,
Tínhamos de ser francos,
com uma fita verde e amarela,
Esse sim, agüentava o tranco.

Um período encantador,
Era o Natal então,
Meu pai trazia da empresa,
Brinquedos e diversão,
Ficávamos todos acordados,
Esperando pelo paizão.

Meu Pai se esforçou,
E conseguiu juntar então,
O dinheiro do terreno,
E fazer a construção,
Foi o próprio pedreiro,
E fez com dedicação.

Trabalhava durante a noite,
E quase sem dormir,
A jornada continuava,
No dia a prosseguir,
E assim aconteceu,
Mas a vitória no porvir.

Eu e meus irmãos,
Começamos a trabalhar,
Os tempos eram difíceis,
E tínhamos que ajudar,
E de alguma forma,
Contribuir e colaborar.

Os anos se passaram,
E muita coisa aconteceu,
Hoje faço Pedagogia,
Barreira que se venceu,
Faço parte de uma parcela,
Que venceu e não pereceu.

Literatura de Cordel
Autora: Edinalva Antunes Cardoso Batista

Agradecimento especial para meu colega de classe Antenor Soares da Silva que me ajudou na revisão do Cordel

Arquivo pessoal Edinalva Batista
Edinalva (bebê) no colo do pai, mãe e irmãos
(foto cidade Monte Azul no estado de Minas Gerais)
Arquivo pessoal Edinalva Batista
foto recordação educação infantil
EMEB Carlos Gomes



Arquivo pessoal Edinalva Batista
Praça "Lauro Gomes" centro de São Bernardo do Campo - SP



Arquivo pessoal Edinalva Batista
cidade de Aparecida do Norte - SP
















Arquivo pessoal Edinalva Batista
Educação Infantil

Arquivo pessoal Edinalva Batista
"barraco na favela"


Vila São Pedro
       Vila São Pedro( região do Montanhão)   mostra o  crescimento desordenado da cidade de São Bernardo do Campo
As fotos  a seguir foram retiradas em outubro de 2010 

Arquivo pessoal Miralva Campos

Arquivo pessoal Miralva Campos
foto (acima) da rua Tertuliano Júnior na Vila São Pedro (ainda sem asfalto)










Arquivo pessoal Miralva Campos

           
Arquivo pessoal Miralva Campos









           " Eu era pequeno, mas eu ainda me lembro, a vila não era deste tamanho que é hoje. O que bem tinha aqui era mato. Voltavámos do E.E. Nail colhendo morangos silvestre para fazer gelinho, tinha vários pés  no finalzinho da Rua Dos Pássaros, onde tinha também uma nascente, mas  hoje é   só um córrego sujo e fedorento`` Luiz César Campos, morador da Vila São Pedro.                                      
            A Vila São Pedro tem aproximadamente vinte e dois anos, está localizada na cidade  São Bernardo do Campo, em uma aréa de Manancial. Foi fundada por um  pequeno  grupo de pessoas que foram desmatando, abrindo ruas e construindo barracos. Esse grupo foi aumentando, pois começaram a chegar parentes e conhecidos, vindos principalmente do Nordeste. Em pouco tempo as primeiras casas de alvenaria apareceram. Na maioria das vezes eram construções  irregulares e  sem acabamento, depois  vieram  a ligação de rede de água, esgoto e  a rede de   energia elétrica que antes era clandestina. Porém  esse serviço era apenas na Avenida principal e em uma ou outra rua, mesmo porque a cada dia a Vila crescia mais. Então quem não tinha água encanada em casa, descia o morro para pegar lá em baixo na Avenida.
            Inicialmente com 2000 pessoas, segundo o IBGE a Vila tem hoje aproximadamente 50000 pessoas. Foram construídas três  escolas, um Pronto Socorro, uma UBS e um parque que está localizado em um pedaço  do terreno do antigo clube  da Wolks. A avenida principal tem todo tipo de comércio como: bares, salões de cabeleireiro, vários mercados, restaurantes, padarias, loja de roupas, de móveis, materiais de construção e locadoras de vídeo.   
            No entanto, apesar da construção das escolas, UBS, a urbanização e a oferta de comércio, a comunidade enfrenta vários problemas. Em época de chuva ocorrem vários alagamentos nas ruas que ficam na parte baixa da vila. Há também as  áreas de risco, pois há vários barracos nas encostas dos morros, e já aconteceram acidentes com vítimas fatais na comunidade. Hoje  ainda existem  ruas sem asfalto e  iluminação. A avenida principal está cheia de buracos e  faltam  também áreas de lazer  como: praças, campos de futebol etc.
            As vagas das escolas nem sempre contemplam à todos,  é feita uma  seleção verificando a renda das famílias (creches), ou então, as crianças do ensino fundamental são encaminhadas para as escolas em bairros próximos.
            Vivemos em uma sociedade onde não é garantido o direito de cidadão á todas as pessoas igualmente, alguns tem esse  direito plenamente contemplado, outros um pouco menos, enquanto outros não tem seus  direitos garantidos, ou seja, não são  reconhecidos como cidadãos de direito.
            Segundo Santos a econômia capitalista distribuem as pessoas desigualmente nos espaços, ou seja, conforme o lugar que mora o indivíduo terá definido sua classe social e seu poder aquisitivo. As pessoas são vistas apenas como consumidores, que precisam comprar, compar para que cada vez mais  a econômia cresça e aumente o capital dos grandes empresários. Eles são os donos do poder e  as ações são feitas para satisfazê-los (2000 p.25). Acões que possibilitem a melhoria da educação, saúde, lazer, não é visto com as mesma importância.
            Verifica-se uma situação desumana, onde as pessoas são consideradas pelo que têm e não pelo que são. Segundo Santos, esta é uma sociedade  marcada por modelo onde parte-se da econômia para para o cidadão, enquanto na democracia verdadeira é o modelo econômico que deve  subordinar ao  cidadão.(2000 p.5).  
 
Agora é o momento não podemos mais esperar,
Exijo mudanças,
As desigualdades não podem continuar,

É hora de acordar,
Gritar, exigir, revolucionar,
Todos precisam nos enxergar,
Somos sujeitos,
Usuário, consumidor, nem pensar!

Esta mensagem vou repassar,
Pois para transformação acontecer,
Todos têm que se empenhar,

E amanhã uma nova sociedade,
Onde todos  tenham os mesmos direitos,
Iremos compartilhar.


Autora: Miralva Campos de Oliveira
Local: Vila São Pedro - São Bernardo do Campo/SP


Arquivo pessoal Miralva Campos